A alma e a moda – final

Uma abordagem bastante comum da moda é considerá-la em seu aspecto superficial. O importante não é o que você veste, mas o que você faz ou o que você pensa. Não sei se todos perceberam, mas não foi isso que eu quis dizer em meu texto anterior, apesar desta visão não estar errada. Que o vestuário seja menos importante que um gesto de caridade ou uma palavra amiga na hora certa, todos conseguem perceber. A minha intenção foi analisar a moda como um tipo de influência exercida sobre os homens, mas que não é notada e é até introjetada como um gosto próprio ou uma peculiaridade que diferencia a pessoa das outras em certos aspectos. Não é o aspecto superficial do vestuário que torna a moda secundária, mas o fato de que a margem de participação individual é mínima. E tudo que não é vivenciado de forma participativa e consciente pelo ser humano não se integra realmente ao seu “eu”, geralmente fica orbitando em sua periferia, como detritos que flutuam ao redor de uma estação espacial. No entanto, muitas vezes, a auto-imagem que a pessoa faz do seu “eu” supervaloriza estes aspectos por serem aqueles sobre os quais ela parece ter algum controle, quando são justamente eles que a moldam impositivamente.

Resumindo, como aspectos muito mais profundos do ser são muito difíceis de compreender, exigindo uma introspecção com a qual a imensa maioria não tem a pretensão de gastar o seu tempo, aqueles mais simples de lidar parecem lhe oferecer a garantia de que, pelo menos com relação àquele aspecto da existência, é realmente a pessoa quem está no controle. Daí o fato de muitos valorizarem a moda e hipertrofiarem a importância dela em suas vidas. O problema, portanto, não é apenas que este aspecto seja superficial e irrelevante por si mesmo, mas que o tal controle é falso, não existe de maneira alguma. E quanto mais sincera a percepção de que este controle existe e é real, mais falso se torna o seu “eu” e, consequentemente, menos a pessoa se conhece interiormente.

Espero que tenha ficado claro que o importante aqui é entender a relação da moda com o ser humano, ou seja, o segredo é compreender que seu gosto pessoal representa muito pouco e que quase tudo está sendo imposto de fora. Esta é a única percepção correta desta realidade chamada “moda”. E desde que seja assim pecebida, não vai fazer a menor diferença para o seu “eu” se você está na moda ou fora de moda. Se o indivíduo está sempre na moda e gasta grande parte de seu tempo tentando se adaptar aos últimos modelitos, mas tem consciência de que nada daquilo é pessoal e que está sendo moldado de fora, não há problema algum. Ou seja, ele sabe que aquilo é apenas uma fraqueza entre muitas e, portanto, deve estar diposto a gastar cada vez menos tempo com isso.

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